Porque Davi não pode ser o homem que vai resolver tudo

É inegável que a vitória de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado é um feito extraordinário e deve ser muito festejada. Também é indiscutível que como presidente do Congresso Nacional, Davi irá influenciar a vida da república e muito poderá fazer pelo Amapá. Isso, naturalmente, cria um clima de otimismo, mas é preciso cuidado: o terreno onde se planta a esperança também é fértil para a decepção.

Assim como acontecia com o ex-senador José Sarney, tudo que for de interesse do Amapá, obrigatoriamente, vai passar pelo gabinete de Davi, em Brasília. Ele é o homem mais próximo ao governo Bolsonaro. Mas não é governo. Assim, a execução e retomada de obras, por exemplo, além de outras tantas pautas, não dependem somente da boa articulação que possa fazer. Até o executivo federal tem suas limitações.

Por isso é perigoso matar no peito essas demandas e dizer: deixa comigo! E Davi talvez nem tenha essa intenção, mas essa é a imagem que começa a se desenhar no imaginário coletivo. Principalmente pela empolgação daqueles que o cercam e pela pompa com que percorreu o Amapá, recentemente, acompanhado de ministros do governo.

O ex-presidente José Sarney é um bom exemplo disso. De tanto que se falava no poder dele, ficou parecendo o homem que tudo podia, se o quisesse. Foi um prato cheio para os adversários, principalmente o PSB, que o pintou como “inimigo do Amapá” ao dizer que tudo que não andava em Brasília era culpa do ex-senador, fosse porque ele só agia a favor dos interesses do Maranhão ou ainda, porque atrapalhava os outros políticos que tentavam fazer para ajudar o Amapá.

E a lógica é simples: se podia tanto, porque não o fez pelo Amapá?

Sarney passou de amigo poderoso a poderoso inimigo do Amapá.

O anedotário político amapaense também tem outra boa referência. Diz a lenda que, não podendo concorrer com o poderio econômico de Jarbas Gato, em determinada eleição, Geovani Borges recorreu a um expediente inusitado. Aos que o procuravam com os mais variados pedidos, Geovani dizia que estava impossibilitado de atender, mas que tinha uma parceria com Jarbas e encaminhava o solicitante para o adversário. Ao dizer não, Gato era quem ficava com a fama de pão duro e perdia votos.

O mesmo pode ser feito com Davi pelos adversários e por ele mesmo se não evitar a armadilha de encarnar o santo milagreiro do Amapá. São apenas anos de mandato de presidente do Senado. É preciso eleger prioridades e não bater espalhado, como se diz popularmente. Moderação é a palavra. Devagar com andor, o santo é bonito e está na moda, mas é de barro.

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